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Além dos produtores de leite, outra categoria que vem acumulando prejuízo com o aumento significativo dos custos de produção é a dos avicultores. Um levantamento realizado pela Faep aponta que, em média, os preços de materiais utilizados no aquecimento dos aviários aumentaram 20%. “O levantamento é realizado por região, então esses 20% é a média geral do Estado. Há casos de regiões que os percentuais são mais significativos. No comparativo entre o levantamento de outubro de 2022 e maio de 2023, na região de Chopinzinho, entre os produtos da madeira, a maravalha para cama acresceu em 25,6%, a lenha 10%, os pellets (maravalha prensada) 34,5%. Nos Campos Gerais o aumento da lenha e maravalha foram de 25% e os pellets 27,3%. E são produtos essenciais em todo o processo de criação do frango. Os pintainhos precisam de aquecimento independente da estação em que estamos. E a maravalha é usada para fazer a cama deles, ou seja, ela é necessária do início o fim do processo também e o pior não tem produto que a substitua”, explica o técnico do Departamento Técnico e Econômico do Sistema Faep/Senar-PR, Fábio Mezzadri.
Na região Oeste, o cenário também é preocupante. “O aumento do preço da lenha foi assustador. A gente pagava R$ 100,00 a tonelada de lenha de eucalipto, e agora compramos por volta de R$ 280 a R$300 a tonelada. O pellet pagávamos R$ 650,00 a R$700,00a tonelada e nas últimas compras foi pra R$ 1.200,00. Um fardo de maravalha que nós pagávamos R$ 25 a R$ 26, agora custa R$ 35 um fardo. A situação está realmente muito complicada para o produtor”, lamenta o avicultor e presidente do Sindicato Rural de Palotina, Edmilson Zabott.

O que causou o aumento

O salto nos preços é consequência de alguns fatores que juntos deixaram o cenário ainda mais delicado. “O plantio do eucalipto, que era abundante, reduziu muito. Em função do preço que ficou por muito tempo estagnado, então quem tinha, cortou e não replantou. E além disso, nessa super safra de milho safrinha as empresas que compram o milho adquiriram muita lenha para fazer a secagem dos grãos. Com isso aumentou muito a procura. O pellet e a maravalha, em função da gripe aviária não podem mais vir da Argentina e o mercado interno subiu os preços” relata Edmilson Zabott.
Além da redução da oferta, a importação registrou aumento. “O preço subiu ainda mais porque aliou o aumento da demanda no mercado interno com o crescimento da importação de madeira. Com a guerra e outras questões internacionais muitos países acabaram buscando produtos florestais aqui”, complementa Fábio Mezzadri.

Sem solução no curto prazo
Por conta do longo ciclo de produção da madeira, não há tão cedo uma perspectiva de melhora no cenário. “Recuperar a oferta não é rápido. A madeira mais comum, utilizada com este fim é o eucalipto. Você demora oito anos para cultivar e conseguir tirar lenha. Alguns produtores tem usado estratégias como plantar a própria floresta ou comprar floresta em pé. Aí o produtor arca com a despesa do corte e consegue reduzir custo”, explica Mezzadri.
O produtor ressalta que esse não é o único impacto no custo de produção que precisa ser absorvido nos últimos meses. “A energia que não para de subir. Aí falam em placa solar, mas para isso nós não temos juros adequados para o produtor poder investir. Infelizmente o programa que nós tínhamos da tarifa rural noturna foi retirado e nós ficamos com o abacaxi na mão. Com a entrada do risco da gripe aviária, os gastos na área de sanidade, controle sanitário também aumentaram muito”, lamenta Zabott.

Gás é alternativa arriscada
Uma possibilidade para substituição da lenha é a implantação de sistema de aquecimento a gás, mas de acordo com o avicultor, não é a melhor alternativa a ser adotada. “O problema do gás é que a gente não tem garantia nenhuma. Podem aumentar o preço do dia pra noite. Muita gente tem optado pelo gás com o objetivo de reduzir a mão de obra do funcionário. Porque hoje a grande dificuldade é você ter a mão de obra. E aí a gente vem trabalhando o máximo automatizado, para que o funcionário tenha mais tempo de trabalhar com o manejo do frango. Por isso o gás encanado hoje é muito prático. A questão é que você fica à mercê do preço praticado pelo governo, já esses outros produtos ainda há a possibilidade de negociar. Em um período que tem melhor oferta você compra um estoque maior. Faz um grupo de produtores e consegue reduzir o custo comprando um volume maior grande e estocando” aponta o avicultor Edmilson Zabott.
E assim como em outras atividades pecuárias, o avicultor também aponta do modelo de comercialização como o fator que mais compromete a manutenção da atividade. “O grande problema é que em todas as cadeias de produção, frango, peixe, leite e suíno, você não faz o preço do teu produto, quem faz o preço são as integradoras e o que nos resta é tentar baixar o custo, mas não existe uma luz no fim do túnel”, lamenta Edmilson.

Fernanda Toigo

Fernanda Toigo. Jornalista desde 2003, formada pela Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel. Iniciou sua carreira em veículos de comunicação impressos. Atuou na Assessoria de Comunicação para empresas e eventos, além de ter sido professora de Jornalismo Especializado na Fasul, em Toledo-PR. Em 2010 iniciou carreira no telejornalismo, e segue em atuação. Desde 2023 integra a equipe de Jornalismo do Portal Sou Agro. Possui forte relação com o Jornalismo especializado, com ênfase no setor do Agronegócio.

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