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Serpente amazônica se alimenta de aves? 6t3f38

Fernanda Toigo

Fernanda Toigo

FOTO: BUTANTAN

Com olhar atento aos detalhes e anos de experiência e dedicação às serpentes: foi assim que duas pesquisadoras do Museu Biológico do Parque da Ciência Butantan comprovaram, pela primeira vez, que as aves fazem parte da dieta da cobra-papagaio (Corallus batesii), conhecida no exterior como jiboia-esmeralda da Bacia Amazônica (Amazon Basin emerald tree boa, em inglês). A descoberta foi publicada na revista Herpetology Notes pelas biólogas Circe Cavalcanti de Albuquerque e Silvia Regina Travaglia Cardoso.

O estudo chamou a atenção de um dos maiores especialistas do mundo no gênero Corallus: o pesquisador Robert W. Henderson, curador da coleção herpetológica do Museu Público de Milwaukee, dos Estados Unidos, que já publicou uma série de trabalhos sobre a serpente. Ele chegou a entrar em contato para parabenizar as cientistas do Butantan – surpreendentemente, no mesmo dia em que saiu o artigo.

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“Eu sabia que, eventualmente, alguém documentaria a ingestão de aves por Corallus batesii. Parabéns por terem sido as primeiras”, escreveu ele. Serpentes do gênero Corallus são arborícolas e vivem a maior parte do tempo no topo das árvores de florestas tropicais. São animais oportunistas, que se alimentam de lagartos, pássaros e pequenos mamíferos que am por elas.

A presença de aves na dieta dessas cobras já havia sido registrada para quase todas as espécies do gênero – com exceção da C. batesii C. caninus, que vivem na floresta amazônica. A suspeita, porém, existia há décadas na ciência. Suas próprias características físicas são ideais para capturar presas volumosas, com dentes finos curvados para trás e cabeça avantajada. Inclusive, por serem morfologicamente muito parecidas, ambas eram consideradas da mesma espécie até a revalidação de C. batesii por Henderson e colaboradores em 2009.

A história da descoberta de Circe e Silvia começou em fevereiro de 2023, quando o Museu Biológico do Butantan recebeu uma C. batesii, resgatada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) – a título de curiosidade, fazia parte da mesma entrega a famosa víbora azul batizada de Rita Lee e atualmente exposta no museu. A cobra-papagaio ou por quarentena para receber cuidados veterinários, assim como todos os animais que são resgatados e encaminhados ao Museu Biológico. Nos primeiros meses, algo chamou a atenção das biólogas.

“A serpente ou dois meses sem se alimentar e, quando defecou, notamos a presença de penas nas fezes. Isso mostra como observar o material biológico do animal e prestar atenção pode ajudar a obter respostas sobre sua biologia”, afirma Silvia.

As cientistas coletaram o material e o conservaram em álcool 70%. Três ornitólogos (especialistas em aves) foram consultados, mas não foi possível identificar a espécie de ave ingerida devido à degradação provocada pela digestão.

O estudo sugere que a ingestão da ave ocorreu na própria natureza, antes do animal ser capturado ilegalmente. O transporte e manutenção inadequados, frequentes durante capturas ilegais da fauna silvestre, podem gerar desidratação e estresse no animal, o que neste caso retardou o processo de defecação e explica o nível de degradação das penas.

Para Circe e Silvia, além da satisfação da descoberta, foi emocionante receber o contato de um pesquisador que é referência para elas. “Foi uma surpresa muito boa. O nosso papel como cientistas é produzir conhecimento, e o que me encanta é que estamos sempre aprendendo. Saber que contribuímos para o conhecimento científico é muito gratificante”, ressalta Circe.

Saiba mais sobre essa história no novo vídeo do Canal do Butantan:

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(Com Butantan)

Autor: Fernanda Toigo

Fernanda Toigo s1k6

Fernanda Toigo. Jornalista desde 2003, formada pela Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel. Iniciou sua carreira em veículos de comunicação impressos. Atuou na Assessoria de Comunicação para empresas e eventos, além de ter sido professora de Jornalismo Especializado na Fasul, em Toledo-PR. Em 2010 iniciou carreira no telejornalismo, e segue em atuação. Desde 2023 integra a equipe de Jornalismo do Portal Sou Agro. Possui forte relação com o Jornalismo especializado, com ênfase no setor do Agronegócio.

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