FRUTICULTURA 5no12

Pesquisa desenvolve amora mais doce e de alto potencial de lucro 59o5g

Fernanda Toigo

Fernanda Toigo

Foto: Silvio Alves

A pesquisa agrícola brasileira lança uma nova cultivar de amora-preta focada no mercado de consumo in natura. Desenvolvida pela Embrapa, a BRS Terena combina alta produtividade, sabor mais doce, baixa acidez e longa conservação pós-colheita, características que trazem vantagens a agricultores e consumidores.

Com produção média de 1,2 kg por planta, com picos de produção de até 1,8 kg, a BRS Terena oferece aos produtores um potencial de lucro líquido em torno de R$ 30 mil por hectare, além de vantagens operacionais, como menor densidade de espinhos em relação à cultivar Tupy, o que facilita o manejo e a colheita.

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“A BRS Terena é uma excelente opção para produtores que querem investir no mercado de frutas frescas. Seu sabor mais doce do que ácido e o tempo de prateleira prolongado fazem com que as frutas da cultivar sejam mais atrativas ao mercado”, conta a pesquisadora Maria do Carmo Bassols Raseira, da Embrapa Clima Temperado (RS), que é coordenadora do projeto de melhoramento de amoras-pretas .

Diferenciais em sabor e qualidade pós-colheita 294p3a

O sabor é um dos principais destaques da BRS Terena. Comparada a outras cultivaress, como a BRS Tupy, a Terena apresenta um sabor doce-ácido, com teor de sólidos solúveis (Brix) de 10,3º, superior aos 8,9º da Tupy e aos 9,5º da BRS Cainguá. “O mais importante é que a proporção de açúcar em relação à acidez (responsável pela sensação doce ao paladar) é quase o dobro do obtido na cultivar Tupy”, explica Maria. Isso se traduz em uma fruta mais doce, ideal para o consumo in natura, que atende à preferência do mercado brasileiro por frutas de menor acidez.

Outro diferencial é a capacidade de conservação. Em testes realizados no Laboratório de Fisiologia de Pós-colheita da Embrapa Clima Temperado, a nova cultivar manteve sabor, cor e firmeza durante 10 dias de armazenamento refrigerado, enquanto outras cultivares apresentaram maior degradação nesse período. As frutas observadas foram colhidas com ponto de maturação comercial. “Como o experimento foi por dez dias, pode ser que ainda conserve por mais tempo”, analisa Raseira.

Foto: Francisco Lima 

 

Adaptação e regiões indicadas para cultivo 2z5w3q

A nova cultivar é indicada para as regiões Sul e Sudeste e algumas áreas do Nordeste do Brasil, onde já existem cultivos de amoreira-preta, podendo atingir altas produtividades. Andrea de Rossi, pesquisadora da Embrapa Uva e Vinho (RS) que lidera os experimentos para validação da cultivar em Vacaria (RS), na região dos Campos de Cima da Serra, confirma que a cultivar atingiu produções de 1,8 kg/planta na média de quatro safras avaliadas, superando a Tupy em algumas condições.

Foto: Silvio Alves

 

Lançamento 5x3pr

No dia 27 de novembro, durante Dia de Campo na Estação Experimental de Fruticultura de Clima Temperado, em Vacaria (RS), a BRS Terena será apresentada aos produtores rurais. Após o lançamento, as mudas estarão disponíveis para compra em viveiros licenciados, como o Frutplan Mudas, em Pelotas (RS), e o Guatambu Viveiro de Mudas, em Ipuiúna (MG).

Como parte da tradição do programa de melhoramento genético, o nome da cultivar homenageia os povos indígenas brasileiros, neste caso, o povo Terena. É resultado de uma parceria entre dois centros de pesquisa da Embrapa localizados no Rio Grande do Sul: Embrapa Clima Temperado e Embrapa Uva e Vinho.

 

Histórico do melhoramento genético de amoreiras-pretas 5zxp

O desenvolvimento da BRS Terena é resultado de décadas de pesquisa da Embrapa, que começou a introduzir amoreiras-pretas no Brasil nos anos 1970. As primeiras cultivares de amoreira-preta, de origem norte-americana, foram introduzidas no Brasil em 1972, com a implantação da primeira coleção semi-comercial em 1974, no município de Canguçu (RS).

A primeira cultivar lançada a partir do melhoramento foi a Ébano, em 1981, embora o programa de melhoramento genético tenha sido registrado oficialmente apenas em 1983, com o lançamento da segunda cultivar, a Negrita. Desde então, o programa lançou as cultivares Guarani (1988), Tupy (1988) – ainda a mais cultivada no Brasil -, Caingangue (1992), BRS Xavante (2002) e, mais recentemente, a BRS Xingu (2015), a BRS Cainguá (2018), a BRS Ticuna (2023) e a BRS Karajá (2024).

A Tupy, por exemplo, ainda é a cultivar mais plantada no Brasil, graças à sua adaptação ao manejo diferenciado para a colheita programada (escalonamento para época mais lucrativa ao produtor) e à produtividade. No entanto, novas cultivares, como a BRS Terena, trazem avanços importantes, como sabor mais doce, maior conservação e facilidade de manejo.

 

 

Conheça as cultivares de amora-preta da Embrapa 325y6m

Atualmente, a Embrapa dispõe de cinco cultivares de amoreira-preta lançadas nos últimos dez anos e licenciadas junto a viveiristas para comercialização de mudas. O trabalho de melhoramento segue em andamento na busca por reunir várias características numa única cultivar. A ideia também é ofertar diferentes cultivares, algumas mais precoces e outras mais tardias do que a Tupy, de maneira a ampliar o período de colheita.

Com relação ao sabor, o objetivo é desenvolver materiais com relação açúcar-acidez mais alta com foco no mercado in natura. “O mercado brasileiro prefere sabor mais doce”, afirma Raseira.

Além disso, o programa de melhoramento busca aliar outra característica relevante ao campo: a ausência de espinhos, reduzindo dificuldades na colheita. Porém, segundo a pesquisadora, a maioria das variedades sem espinhos possui sabor amargo predominante, sendo mais adequadas à indústria, como é o caso das cultivares Ébano e BRS Xavante. “A BRS Karajá tem sabor menos amargo, mas ainda não chegamos no que queríamos. A cada geração, vamos avançando um pouco mais”, explica.

O trabalho também busca o desenvolvimento de cultivares remontantes ou reflorescentes – que podem produzir no outono e no verão, mesmo sem tratamento especial como ocorre com a Tupy. Além disso, também são valorizados aspectos como tamanho da fruta, resistência a doenças, produtividade igual ou maior do que a Tupy, tamanho pequeno das sementes, firmeza e conservação pós-colheita.

 

Foto: Paulo Lanzetta (BRS Xingu)

Amora-preta BRS Xingu (2015)

Desenvolvida para condições de inverno ameno, destaca-se por sua maturação mais tardia do que  a Tupy, que permite estender o período de colheita em duas semanas, em média. Em avaliações durante seis safras, também apresentou produção média de 800g a mais de frutas por planta do que a cultivar Tupy, considerada referência. A firmeza garante boa conservação pós-colheita. É indicada para os estados do Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, na região Sudeste; e Paraná, Rio Grande do Sul e Santa Catarina, na região Sul. A BRS Xingu pode ser utilizada para comercialização in natura ou para elaboração de doces, principalmente geleias, desidratados, sucos, iogurtes e sorvetes.

 

 

Foto: Lirio_Reichert (BRS Cainguá)Amora-preta BRS Cainguá (2019)

Tem excelente aceitação para o consumo in natura devido à ótima aparência e ao equilíbrio entre acidez e açúcar. Precisa de 200 a 300 horas de acúmulo de frio hibernal (temperaturas iguais ou menores que 7,2 °C) para apresentar uma boa produção. Foi desenvolvida pela Embrapa em parceria com outras  instituições

 

 

Amora-preta BRS Ticuna (2023)

Cultivar altamente produtiva destinada ao processamento, como opção para a produção de geleias e sucos, por apresentar alta acidez. Um hectare pode render até 20 toneladas de frutas, sendo considerada uma das cultivares mais produtivas, o que faz superar a cultivar referência que é a BRS Tupy. É resistente a doenças e indicada para o cultivo em sistema orgânico, sendo necessário o controle de ferrugem e cuidados com a mosca das frutas (Anastrepha fraterculus) e com a Drosófila da Asa Manchada (Drosophila suzukii). É adaptada aos estados da região Sul do Brasil.

 

Foto: Francisco Lima (BRS Ticuna)

Amora-preta BRS Karajá (2024)

Cultivar sem espinhos, o que facilita o manejo, mas com moderada acidez. Suas frutas, de coloração preto-avermelhada, são de tamanho médio – massa média de 4,5 g por fruta – e formato ovalado, com sabor doce-ácido levemente amargo. São recomendadas para congelamento, processamento ou consumo fresco. A produção média é de 1,4 kg por planta.

 

Amora-preta BRS Terena (2024)

Com características como sabor mais doce, longa conservação e fácil manejo, representa um avanço significativo para o cultivo de amoreiras-pretas no Brasil e promete ser uma aliada importante para produtores em busca de qualidade e lucro. Com produção média de 1,2 kg por planta, com picos de produção de até 1,8 kg, a BRS Terena oferece aos produtores um potencial de lucro líquido superior a R$ 30 mil por hectare, além de vantagens operacionais, como menor densidade de espinhos, que facilita o manejo e a colheita.

Foto: Rodrigo Franzon (BRS Karajá)

 

(Por Viviane Zanella,  Embrapa Uva e Vinho)

Autor: Fernanda Toigo

Fernanda Toigo s1k6

Fernanda Toigo. Jornalista desde 2003, formada pela Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel. Iniciou sua carreira em veículos de comunicação impressos. Atuou na Assessoria de Comunicação para empresas e eventos, além de ter sido professora de Jornalismo Especializado na Fasul, em Toledo-PR. Em 2010 iniciou carreira no telejornalismo, e segue em atuação. Desde 2023 integra a equipe de Jornalismo do Portal Sou Agro. Possui forte relação com o Jornalismo especializado, com ênfase no setor do Agronegócio.

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