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No Dia do Milho, Emater destaca importância das sementes crioulas 1a4i1x

Fernanda Toigo

Fernanda Toigo

Foto: Divulgação Emater/RS-Ascar

Nesta quinta-feira (24/04), Dia do Milho, celebra-se um dos principais cereais cultivados mundialmente e que desempenha um papel central na agricultura familiar do Rio Grande do Sul, especialmente em áreas rurais. Desde os tempos da cultura Guarani, o milho tem sido fundamental para a alimentação das comunidades e, com a chegada dos imigrantes, ou a integrar os pratos típicos de diversas etnias. Hoje, é uma importante fonte de subsistência para pequenos agricultores, oferecendo alimentação tanto para a família quanto para os animais.

Nesta data, o destaque não será para a produção, a produtividade ou o manejo da cultura, mas sim para a preservação das sementes crioulas, que são um patrimônio genético vital para a agricultura familiar e a preservação da biodiversidade. De acordo com o extensionista rural da Emater/RS-Ascar, Adriano Jeferson Dreher, o resgate das sementes crioulas vai além da simples preservação de uma tradição. “As sementes crioulas representam um vasto repositório genético vivo e dinâmico, essencial para a segurança alimentar global. Essas sementes, adaptadas às condições locais, garantem a autonomia dos agricultores e a continuidade da produção, mesmo diante de desafios, como mudanças climáticas e déficit hídrico”, avalia.

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Dreher conta que a Associação dos Guardiões das Sementes Crioulas de Ibarama tem desempenhado um papel fundamental no resgate e multiplicação dessas sementes. “Desde 2008, a Associação trabalha para conservar as variedades tradicionais que, de outra forma, poderiam ser perdidas. Além disso, as sementes crioulas oferecem uma alternativa sustentável para a agricultura familiar, contribuindo para a produção de alimentos ecologicamente justos e socialmente responsáveis”.

Essas sementes têm grande importância, pois são mais adaptadas às condições locais, garantindo uma produção resiliente e nutritiva. “A troca de sementes é uma prática cada vez mais presente nas comunidades e movimentos sociais do Estado, incluindo indígenas, quilombolas e agricultores familiares, fortalecendo a conexão entre o campo e a cidade, além de fomentar a troca de conhecimentos”, acrescenta o extensionista.

A troca de sementes não é apenas uma oportunidade de o a variedades tradicionais de plantas, mas também uma forma de preservar um conhecimento ancestral e fortalecer a soberania alimentar. “Ao cultivar essas sementes, os agricultores mantêm sua independência, garantindo alimentos saudáveis, sem a dependência de grandes corporações ou de sementes geneticamente modificadas”, finaliza Adriano.

Em Ibarama, o Dia da Troca de Sementes Crioulas, que chega a 23ª edição neste ano, permite que agricultores, famílias e comunidades se conectem, compartilhem e aprendam sobre o valor das sementes crioulas. O evento busca promover o uso dessas sementes e estimular a multiplicação das variedades tradicionais, garantindo que as futuras gerações possam continuar a se beneficiar desse valioso recurso.

O Dia da Troca de Sementes Crioulas, que será realizado no segundo semestre, nos dias 7 e 8 de agosto, em Ibarama, tem como objetivo incentivar o resgate e a disseminação das sementes tradicionais entre os agricultores familiares, além de promover a troca de mudas e o fortalecimento da agricultura sustentável. A troca de sementes e mudas é uma ação que reforça a importância da preservação e do cultivo responsável.

PRESERVAÇÃO EM BANCO MUNDIAL

A conservação da agrobiodiversidade também se dá com o envio das sementes crioulas da Associação de Agricultores Guardiões de Ibarama ao Banco Mundial de Sementes de Svalbard, na Noruega. A iniciativa, fruto de uma parceria histórica entre a Embrapa Clima Temperado, de Pelotas, e agricultores familiares da região, reforça a preservação de variedades tradicionais e representa um marco para a agricultura familiar brasileira.

“Essa ação é resultado de uma relação construída ao longo de décadas. A aproximação entre a Embrapa e os agricultores familiares começou ainda nos anos 1980, e desde então identificamos uma riqueza enorme de variedades crioulas entre esses produtores”, explica Irajá Ferrer Antunes, pesquisador da Embrapa Clima Temperado.

Diante do potencial genético e cultural dessas sementes, surgiu a proposta de integrá-las ao cofre de sementes de Svalbard, conhecido como “Cofre do Fim do Mundo”. Após consulta aos agricultores, a Associação de Ibarama prontamente concordou em contribuir com a iniciativa global.

A partir daí, com orientação da Embrapa, iniciou-se o processo de multiplicação das sementes, garantindo qualidade e poder germinativo adequados. Em seguida, as amostras foram enviadas à sede da Embrapa Clima Temperado e, posteriormente, a Brasília, de onde seguiram para a Noruega.

O protocolo exige que cada variedade tenha cerca de 2 mil sementes, sendo que 1,5 mil ficam armazenadas no banco genético da Embrapa e 500 são enviadas à Noruega. “Isso garante não só a segurança das sementes no cenário internacional, mas também a possibilidade de recuperação no Brasil, caso haja perda por parte dos agricultores”, destaca Antunes.

Esse tipo de conservação tem se mostrado essencial, especialmente diante das mudanças climáticas e da substituição de variedades tradicionais por sementes comerciais. “Já tivemos casos de agricultores, inclusive indígenas, que perderam suas sementes e conseguiram recuperá-las a partir dos bancos da Embrapa”, lembra o pesquisador.

Além da segurança alimentar, a valorização das sementes crioulas também representa uma nova possibilidade de renda para os agricultores familiares. “Essas variedades apresentam diferenças nutricionais importantes e, ao serem reconhecidas, podem abrir novos mercados e oportunidades, inclusive para o consumidor urbano”, afirma.

O envio de sementes é voluntário e depende da iniciativa dos próprios agricultores guardiões. O processo, que leva cerca de dois anos entre a decisão e o envio efetivo, requer o apoio técnico da Embrapa, que mantém acordo de cooperação com o banco norueguês.

Para Antunes, o mais importante é o reconhecimento do papel dos agricultores guardiões. “Preservar essa diversidade é uma ação estratégica frente à erosão genética. Valorizar quem mantém essas sementes vivas é fundamental para o futuro da alimentação e da agricultura sustentável”.

(Com Taline Schneider/Emater/RS-Ascar)

Autor: Fernanda Toigo

Fernanda Toigo s1k6

Fernanda Toigo. Jornalista desde 2003, formada pela Faculdade de Ciências Sociais Aplicadas de Cascavel. Iniciou sua carreira em veículos de comunicação impressos. Atuou na Assessoria de Comunicação para empresas e eventos, além de ter sido professora de Jornalismo Especializado na Fasul, em Toledo-PR. Em 2010 iniciou carreira no telejornalismo, e segue em atuação. Desde 2023 integra a equipe de Jornalismo do Portal Sou Agro. Possui forte relação com o Jornalismo especializado, com ênfase no setor do Agronegócio.

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