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Sogra e nora consolidam agroindústria familiar x3x

“Olha, por mais que as pessoas digam que essa pode ser uma relação complicada, o fato é que nos damos muito bem. Claro, não é que não ocorram problemas ou eventuais discussões. Mas com diálogo sempre chegamos a um consenso”. Quando ouviram a pergunta meio inevitável sobre o seu grau de parentesco, as agricultoras Morgana e Silvana Frozi, responsáveis pela agroindústria familiar Sabor Caseiro, de Alto Feliz, no Vale do Caí, sorriram ao mesmo tempo – o que também pode ser uma evidência de sua afinidade. “Sim, sou a nora da Silvana e a gente pensa diferente, como qualquer ser humano”, ponderou Morgana, de 26 anos.
“O fato é que tudo começou meio que por acaso”, explica Morgana. Tradicionais viveiristas, com quase duas décadas de atuação no município, a família Frozi sempre foi conhecida por distribuir mudas de frutíferas para agricultores da região. “Só que como acontece em qualquer família do interior, minha mãe (a dona Anselma, falecida em 2023) tinha por hábito fazer bolachas pintadas e outras iguarias, quando éramos mais novos”, recorda Silvana. “Aí, no final de 2022, a gente produziu uma fornada para nosso consumo e resolvi fazer uma foto pra colocar no Face, só pra compartilhar mesmo”, lembra Morgana. “E aí as pessoas já começaram a perguntar se tinha pra vender”, sorri.
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A viralização da foto na esfera local, com amigos e vizinhos incentivando a produção para a comercialização, foi o que deu o “clique”. “Não demorou para que fizéssemos uma segunda fornada, essa maior, anunciando nas redes que venderíamos”, explica Silvana. O sucesso foi imediato. O que fez com que elas percebessem a existência de uma forte demanda por esse tipo de produto. Que só aumentava a cada semana e a cada nova entrega, ainda na informalidade. “‘Por que vocês não fazem pães, bolos?’ foram perguntas que começaram a pipocar nas redes sociais”, rememora a jovem, ao explicar o quão orgânico foi o processo.
Para a dupla, foi tudo surpreendente, mas até certo ponto, já que foi no transcorrer da história que elas perceberam o quanto as pessoas estavam dispostas a comprar produtos coloniais, com aquele sabor de memória afetiva, de ado, de casa da mãe e que muitas vezes não são tão íveis. “A gente tem um senhor que toda a segunda de manhã está aqui para comprar o pão de milho”, pondera Silvana. “O caso é que, para quem não tem o costume de fazer, se torna muito prático adquirir um produto pronto, fresquinho e com valor justo”, frisa Morgana, garantindo que atualmente a agroindústria chega a vender cerca de 100 unidades de pães de milho por mês.
“Talvez para quem esteja acostumado com a escala industrial, esses números não pareçam tão expressivos, mas o caso é que o desafio para um empreendimento familiar é justamente preservar sua essência mais ‘caseira'”, pondera a extensionista da Emater/RS-Ascar Rosângela Zimmer. A Instituição foi o canal para que a agroindústria pudesse ser legalizada, já que ela é a responsável por operacionalizar o Programa Estadual de Agroindústria Familiar (Peaf) do Governo do Estado, que formaliza os empreendimentos nas esferas sanitária, tributária e ambiental, concedendo-lhes também a possibilidade de uso do Selo Sabor Gaúcho.
“Na realidade, a Emater foi fundamental, especialmente nessa parte de papeladas, de burocracias, de adequações para a construção do prédio para que não houvesse equívocos”, salienta Morgana, que é natural de Caxias do Sul e somente aos 18 anos veio morar junto ao atual marido. De forma concomitante, ao mesmo tempo em que produziam, a dupla participava de cursos como o de Boas Práticas de Fabricação, oferecido pelo Centro de Treinamento de Agricultores de Fazenda Souza. “Foi tudo de dois anos pra cá e hoje em dia não poderíamos estar mais felizes”, avalia Silvana, citando o fato de fazer pouco mais de um ano da legalização.
Com o empreendimento formalizado, a dupla pode participar de outras políticas públicas, como o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) do Governo Federal, e mesmo de feiras pequenas, como a que ocorre todo o primeiro sábado do mês, em Alto Feliz, ou de grandes, estaduais. “A nossa primeira foi a Expointer”, ressalta Silvana “Foi como já começar diretamente na Copa do Mundo”, exibe-se Morgana, citando a loucura logística de uma feira do tipo. “Mas pra nós que ainda estamos no começo, isso é ótimo, poder mostrar nossos produtos, nossa marca, são coisas que nos deixam orgulhosas”, anima-se a jovem, que cita a importância das redes sociais, Instagram e Whatsapp, como forma de também divulgar.
Mãe de uma menina de cinco anos e com um menino a caminho – Morgana está grávida de cinco meses -, a empreendedora tem planos para o futuro, ficando cada vez mais distante do ideal de vida em uma cidade grande, como a sua de nascimento, Caxias do Sul. “Minha ideia é melhorar essa frente, fazer um espaço para que as pessoas possam sentar, tomar um café”, aponta, mostrando o local em frente à agroindústria em que está sendo construído um pergolado com um balanço, cercado por vegetação. “Olha, se depender da vontade e da disposição delas, os desejos e sonhos serão certamente alcançados”, conclui Rosângela.
(Com Tiago Bald/Emater/RS-Ascar/Lajeado)